O
Povo da Aliança
Os homens, que
habitavam a Palestina há dois mil anos atrás, pelo menos a sua maioria, estavam
convencidos de que não se acham ali por acaso: tinham certeza de que a sua
presença nesse país possuía um significado sob a Providência Divina e que o
próprio Deus os estabelecera nessa terra.
Um orgulho
nacional enchia o coração do judeu mais humilde quando se lembrava de que
pertencia à raça escolhida, ao povo da aliança. O judeu sabia que nenhuma nação
da terra possuía um privilégio como o deles.
A nação de
Israel surgiu de uma revelação bastante antiga e que se mantinha sempre
presente no coração de toda a nação. Um homem chamado Abrão, que vivia em Ur,
capital da região na parte inferior do Eufrates, recebera uma visitação de Deus
e ouvira sua ordem: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e
vai para a terra que te mostrarei: de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome” (Gênesis 12:1 e 2). Abrão obedeceu. Ele
seguiu pelas trilhas do deserto, disposto a correr os riscos de uma grande
jornada a mando do Senhor. Esta obediência foi recompensada. Abrão recebeu do
Senhor advertências e promessas. E, como garantia das promessas feitas por Deus,
o nome de Abrão foi mudado para Abraão (“pai de uma multidão”) e de forma
milagrosa sua esposa já velha lhe deu um filho.
Esse foi o
início daquela aliança que sempre existira desde tempos antigos entre o Senhor
Todo-Poderoso e os que se diziam seus servos. Um sinal físico dessa aliança
tinha sido estabelecido, um sinal na própria carne do homem: a circuncisão. Se,
porém a aliança tinha sido estabelecia de uma vez por todas, as condições de
sua aplicação haviam mudado no curso dos séculos: as obrigações tinham ficado
mais pesadas e se aprofundado mais.
No início, na
era dos patriarcas, as condições eram extremamente simples. Para manter a fé
bastava crer no Deus único, naquele referido com “El”, ou melhor ainda
“Elohim”. Este Deus único quase não exigia adoração, sacerdócio, nem templo e
pouco mais do que alguns sacrifícios de tempos em tempos. Ele não impunha uma
ética a seus servos, e as doutrinas instituídas por esta religião eram bem
simples.
500 a 600 anos
depois de Abraão, um homem foi escolhido por Deus para livrar o seu povo da
escravidão no Egito e levá-lo de volta à Terra Prometida, esse homem chamava-se
Moisés. Sob a liderança de Moisés, os israelitas fugitivos cruzaram o Mar
Vermelho e foram então protegidos da morte no deserto. Nessa ocasião a aliança não
só foi renovada, mas também expressa com maior exatidão: Deus deu a seu povo
uma nova garantia, revelando-lhes seu nome extraordinário, Yaweh – a marca de
sua onipotência – Yaweh – “Aquele que é”!
Em troca o Senhor lhes impôs mandamentos, as famosas leis, ou seja, os Dez
Mandamentos e, baseado neles, Moisés pôde, mais tarde, dedicar-se inteiramente
ao desenvolvimento de um código moral e religioso, um código de uma organização
política e social.
Assim
confirmada e explicada, a aliança permitiu que as tribos tomassem a terra de
Canaã nos dias de Josué e dos juízes. Foi novamente a aliança que estabeleceu o
rei Davi.
Independente de
todas as provas da infinita bondade de Deus, dedicada ao seu povo, esse Povo
Escolhido muitas vezes desrespeitara a aliança, cedendo às tentações da
idolatria e às práticas imundas realizadas por outros povos. Assim, Deus enviou
vozes extraordinárias para que falassem e intercedessem por este povo rebelde –
os profetas (Amós, Oséias, etc). Um terrível castigo veio sobre a nação infiel
de Israel: foram levados para a Babilônia. Era o exílio. Mas a misericórdia de
Deus continuava sendo maior do que a sua justiça: Yaweh permitiu que este
castigo tivesse um fim, e que o rebanho exilado voltasse para esta terra mais
abençoada que todas as outras.
A provação foi
proveitosa. Graças ao Exílio, o Povo Escolhido, e por meio de outros profetas,
(Isaías, Ezequiel, Jeremias, etc), recebeu a mensagem de que tudo que vem de
Deus deve ser adorado e que tudo colabora para o aperfeiçoamento do homem. A
aliança tomou um significado ainda mais profundo: ela se tornou a base de uma
religião mais interior, mas espiritual. A missão que o Povo Escolhido sabia ser
sua responsabilidade não era mais então simplesmente confirmar a existência de
um único Deus e proclamar os seus mandamentos, mas sim ensinar a humanidade a
buscar o que é divino pelo esforço pessoal, a purificação moral, e o empenho da
alma. A circuncisão, “o sinal da aliança na carne”, era ainda obrigatória, mas
todos sabiam que, como Paulo diria mais tarde, a verdadeira circuncisão era
interior, algo ocorrido dentro do coração humano.
Tudo estava então
relacionado com a certeza do Povo Escolhido de que era único, diferente de
todos os demais e superior a eles. Tudo, a sua fé em um único Deus, amor pelo
país, submissão às leis morais, desejo de manter em ordem sua vida social e
política segundo princípios estabelecidos, e seu desejo de alcançar uma
experiência espiritual muito mais sublime.
Lei
da hospitalidade e do Asilo
A
hospitalidade é uma necessidade da vida no deserto, necessidade que veio a ser
uma virtude e uma das mais estimadas entre os nômades. O hóspede é sagrado:
recebê-lo é uma honra disputada. O forasteiro pode desfrutar dessa
hospitalidade durante 3 dias e, quando vai embora, ainda lhe é devida proteção,
cuja duração é variável: em algumas tribos “até que tenha saído de seu ventre o
sal que comeu”, nas grande tribos, como no caso da Síria, por mais outros 3
dias e em um ráio de 150 quilômetros.
Abraão
recebeu os 3 homens em Manre (Gênesis 18:1 a 8); Labão apressa-se para acolher
o servo de Abraão (Gênesis 24:28 a 32). Ló recebeu dois anjos em Sodoma
(Gênesis 19:1 a 8) e em Juízes 19:16 a 24, no caso do crime de Gibeá, mostram
até que extremos podia chegar o sentimento de hospitalidade. Ló e o ancião de
Gibeá estão dispostos a sacrificar a honra de suas filhas pela proteção de seus
hóspedes, e dá-se a razão disso: é só porque esses estavam sob a proteção de
seus tetos (Gênessi 19 e Juízes 19).
Outra consequência
da vida nômade é a lei de asilo. Nesse estado social é impossível e inconcebíbel
a existência de um indivíduo isolado, que não pertença a nenhuma tribo. Se um
homem é excluído de sua tribo por causa de um homicídio ou de uma ofensa grave
ou se ele mesmo retira-se dela por qualquer razão, ele deve buscar a proteção
de alguma outra tribo.
No Antigo
Testamento encontramos as cidade de refúgio. As cidades de refúgio dos países
antigos eram, essencialmente, medidas judiciais auxiliares, para ajudar o
escape dos homicidas involuntário. Visto que o código de vingança era forte, os
parentes de uma pessoa morta por outrem matavam sem misericórdia o culpado pelo
homicídio, sem temer qualquer ação da parte da lei. A lei da retribuição, em
Israel, requeria punição igual ao crime (Gênesis 9:6; Êxodo 21:12 a 14;
Levítico 24:17; Ezequiel 18:20).
Lemos que
era considerado um dever: o parente
de um homem morto justiçar o assassino, mesmo que o homicídio tivesse sido
feito involuntariamente, mesmo que com razão, em defesa própria. Os lugares de
refúgio incluíam os templos, os santuários e os lugares santos de todas as
variedades. No território de Israel, seis cidades levitas foram separadas com
essa finalidade. Mas elas visavam somente os casos de homicídio acidental. Os
criminosos eram protegidos nessas cidades. Essas cidades serviam para modificar
a inflexibilidade das leis vigentes. Essas cidades eram as seguintes (Josué
20:7 e 8):
·
Cades – cerca de 25 Km ao norte
do mar da Galiléia.
·
Siquém – localizada no fim do
vale que tinha um formato de “V”, na linha leste-oeste, entre o monte Ebal e o
monte Gerigim.
·
Hebrom (Quiriate-arba) – em Judá,
cerca de 32 km ao sul de Jerusalém.
·
Bezer – nas terras altas
orientais a leste de onde o rio Jordão deságua no mar Morto.
·
Ramote – cerca de 80 km mais para
o norte, nas terras altas de Gileade.
·
Golã – nas terras altas a leste
do mar da Galiléia.
A exata
localização desta última é desconhecida. Essas cidades estavam localizadas em
lugares estratégicos, dando aos habitantes de cada tribo um lugar de refúgio,
não muito distante.
O trecho de
Êxodo 21:14 dá a entender que um assassino proposital não podia esperar
proteção em frente do altar; mas um homicida acidental podia fazê-lo, por algum
tempo. As leis de Israel não proviam a remoção da culpa pelo homicídio, mas a
morte do sumo sacerdote, então atuante, permitia que o homicida circulasse
livremente, sem temor de retaliação.
Alguns
supõem que a morte do principal sacerdote da área tinha o mesmo efeito.
Requeria-se que as estradas que levavam às cidades de refúgio fossem mantidas
em boas condições (Deuteronômio 4:41 a 43 e 19:1 a 13).
Havia
qualificações específicas para aqueles que buscassem as cidades de refúgio, e
os anciãos das cidades tomavam decisões referentes a cada caso. As cidades de
refúgio provavelmente eram lugares de grande atividade; mas, curiosamente, não
temos qualquer relato no Antigo Testamento que ilustre isso.
Se os
anciãos de uma cidade decidissem, de modo favorável ao homicida, ainda assim
este precisava confinar-se na cidade de refúgio, até a morte do sumo sacerdote
(Números 35:25ss), tornando tal refúgio um tipo de aprisionamento. Em outras
palavras, os homicidas involuntários ainda assim pagariam uma pena.
As cidades
de refúgio, obviamente, representam o refúgio que temos em Cristo, o qual é
nosso sumo sacerdote. A sua morte livrou-nos do temor ou retaliação do pecado,
até onde está envolvido o destino da alma. A lei de Moisés era um código de
justiça, e a misericórdia não era, então, um conceito tão presente como se vê
em nossos dias. Apesar disso, as cidades de refúgio envolviam certa medida de
misericórdia. Porém, em Cristo, o pecador perdoado fica inteiramente livre da
culpa e das consequências eternas do pecado.
A
organização das tribos
1. Constiuição das tribos
A tribo é um
grupo outônomo[1] de
famílias que se consideram descendentes de um mesmo antepassado. Ela é
denominada segundo o nome ou o sobrenome de seu antepassado, precedido ou não
de “filhos de”. No lugar de “filho”, pode-se dizer “casa” (no sentido de
família, descendência).
O que une os
membros de uma mesma tribo é o vínculo de sangue, real ou suposto: todos são
considerados “irmãos”, em um sentido amplo. Abimeleque disse a todo o clã[2]
de sua mãe: “Lembrai-vos de que sou vosso osso e carne” (Juízes 9:2b). Todos os
membros do clã (tribo) de Davi são para ele “irmãos” (1º Samuel 20:29), e a
todos os anciãos de Judas ele diz: “Vós sois meus irmãos, meu osso e minha
carne” (2º Samuel 19:13).
Cada tribo
possui tradições próprias sobre o antepassado do qual descende. Essa ideia dirigiu
a composição das grandes genealogias. Cada tribo se reporta[3]
a um antepassado único. Essas genealogias podem ser exatas quando se trata de
um pequeno grupo, contudo, pode haver perda de informação com a distãncia entre
os descendentes.
De fato, além
da descendência de sangue, muitos outros elementos podem intervir na
constituição de uma tribo. A comunidade de moradia conduz à fusão de grupos
familiares. Elementos fracos são absorvidos por um ambiente mais forte, ou
muitos grupos fracos se juntam para formar uma unidade capaz de permanecer
autônoma, ou seja, capas de resistir aos diversos ataques. Com relação aos
indivíduos, sua incorporação a uma tribo pode realizar-se por adoção de uma
família. Contudo, o princípio é mantido, pois o recém-chegado é ligado “por
nome e sangue” à tribo, ou seja, reconhece o antepassado da tribo como seu
próprio antepassado, se casará dentro da tribo e fundará uma descendência.
As tribos de
Israel não escaparam a esses contratempos e também tiveram que absorver grupos
de origem diferente. Assim, a tribo de Judá acabou acolhendo os remanescentes
da tribo de Simeão, e também incorporou grupos estrangeiros, os calebitas, os
jerameelitas, e outros. O processo seguido é claramente indicado na Bíblia a
respeito dos calebitas: eles eram originariamente afastados da sociedade
israelita, pois Calebe era filho de Jefoné, o quenezeu (Números 32:12; Juíses
14:6 a 14; Gênesis 15: 19 e 36:11), mas relacionaram-se em Israel desde a estada
em Cades, onde Calebe foi designado representante de Judá como espia para a
exploração de Canaã (Números 13:6); sua integração a esta tribo vem indicada em
Josué 15:13 e Josué 14:6 a 15. Finalmente, Calebe é ligado geneologicamentea a Judá:
o filho de Jefoné torna-se filho de Hesrom, filho de Perez, filho de Judá (1
Crônicas 2:9,18 e 24), e irmão de Jeremeel (1 Crônicas 2:42), outro grupo
estrangeiro (1º Samuel 27:8 a 12), também unido ao tronco de Judá (1 Crônicas
2:9). Sem dúvida fusões semelhantes aconteceram com frequência, especialmente
no princípio, esse tipo de situação poderia ter acontecido em vários outros
momentos da história de Israel e não podemos dizer hoje se essas fusões eram
erradas ou não, contudo, elas aconteceram e todos que foram inseridos foram
aceitos como membros legítimos da tribo.
2. Agrupamento, divisão e
desaparecimento das tribos
As 12 tribos
de Israel foram uma confederação[4]
e conhecem-se agrupamentos semelhantes de tribos árabes. Às vezes, se trata
somente de pequenas tribos que se unem para formar uma frente comum contra
vizinhos poderosos, com foi dito anteriormente. Outras vezes trata-se de tribos
que têm certa origem comum, que provêm da divisão de uma tribo que se tornara
muito numerosa. Essas tribos conservam o sentimento de seu parentesco e podem
unir-se para realizar obras em comum, migrações ou guerras, e, nesse caso,
reconhecem um chefe obedecido por todos os grupos ou por parte deles.
Israel
conheceu uma situação parecida durante sua estada no deserto e durante a conquista
de Canaã, situação que se prolongou após a sedentarização[5],
durante o período dos juízes. As 12 tribos de Israel eram ligadas pela
religião: juntamente com o sentimento de seu parentesco, a fé comum em Yawéh,
que todos seguiam, Josué 24, era o vínculo que unia as tribos ao redor do
santuário da arca (o Tabernáculo) onde se encontravam por ocasião das grandes
festas.
Pode
acontecer também que um grupo, muito numeroso para poder conviver e utilizar os
mesmos pastos, se dividia e formava dois grupos, que vivem em plena
independência. Desta maneira se separaram Abraão e Ló (Gênesis 13:5 a 13).
Contudo, os deveres de parentesco subsistem, e quando Ló é levado cativo pelos
4 reis vitoriosos, Abraão corre em seu auxílio (Gênesis 14:12 a 16).
Uma tribo,
em vez de crescer, pode simplesmente ir diminuindo e, por fim, desaparecer,
assim como aconteceu com Rúben, Levi, Simeão que foi absorvido por Judá
(Gênesis 34, 49, Josué 19, Juízes 1 e Deuteronômio 33).
3. Organização e governo da tribo
Mesmo que
forme um todo, a tribo, em uma organização interna, foi fundada também nos
vínculos de sangue. Em Israel a unidade da tribo é a família, que corresponde
não só ao pai, sua esposa ou esposas e seus filhos não casados, mas também aos
filhos casados com suas esposas e filhos e a criadagem. Várias famílias
constituem um clã, que vive originalmente no mesmo lugar, ou se reúne para
festas religiosas comuns e refeições sacrificiais. O clã é dirigido pelos
chefes de família ou anciãos. Em tempo de guerra, fornece um contingente bem
grande que fica às ordens de um chefe. O conjunto de clãs constiuiu uma tribo.
A tribo congrega todos os que obedecem a um líder maior, que obviamente,
comanda todos os clãs.
4. Território da tribo, guerra e razia
Cada tribo
tem um território que lhe é reconhecido como próprio e dentro do qual as terras
cultivadas estão geralmente sob o regime de propriedade privada, mas os pastos
são comuns. Os limites são, às vezes, flutuantes e se dá o caso de que, grupos
que pertencem a tribos diferentes, consigam dividir harmoniozamente os bons
pastos. Mas a tribo que pertence o pasto em questão pode impôr condições e
exigir direitos de pastagem.
Pode haver
facilmente disputas por direitos no caso do uso de poços ou cisternas. No
deserto, todo mundo deve saber que poço pertence a tal grupo, mas acontece que
ás vezes os títulos são questionados e surgem assim contendas entre os
pastores. Isso aconteceu com os pastores de Ló que disputavam com os pastores
de Abraão (Gênesis 13:7); os servos de Abimeleque e Abraão (Gênesis 21:25) e
Isaque (Gênesis 26:19 a 22).
Se os
conflitos não se resolvem amistosamente, como nos exemplos bíblicos, dão lugar
a guerra. Na guerra, o despojo é repartido entre os combatentes, mas o líder
tem direito a uma parte especial, que antigamente era a 4ª parte do recolhido.
Em Israel, na época de Davi, o saque era repartido pela metade com os
combatentes e os que ficavam na retaguarda, ficando sempre uma parte reservada
ao líder (1º Samuel 30:20 a 25). Cada tribo tinha o seu grito de guerra e a sua
bandeira. Em Êxodo 17:15 lemos: “O Senhor é a minha bandeira”.
A razia é
diferente da guerra: nela não não se trata de matar, mas de saquear e fugir sem
sofrer danos. É o esporte nobre do deserto; supõe o uso de camelos de corrida e
de éguas de raça, e tem regras fixas. Na antiguidade os israelitas não
conheceram nada parecido. O que mais se parece com a “razia” são as incursões
dos midianitas e dos filhos do Oriente, montados em seus camelos, na época dos
juízes (Juízes 6:3 a 6); e, de forma mais branda, as expedições de Davi ao
Neguebe durante sua estada entre os filisteus (1º Samuel 27:8 a 11).
[2] Clã: Um clã
constitui-se num grupo de pessoas unidas por parentesco e linhagem e que é
definido pela descendência de um ancestral comum.
[5] Sedentarização: é basicamente quando um povo deixa de
ser nômade para se fixar e lugar próprio. Processo por meio do qual o homem
passa a habitar de forma fixa, a partir das práticas agrícolas. Assim, ele
deixa de ser nômade, isto é, deixa de viver permanentemente mudando de lugar.
Lei do Nazireado
A melhor
tradução para o termo “nazireu” é “separar”, “consagrar”, “abster-se”,
ou até “coroa de Deus”, termo algumas
vezes aplicado a cabeleira não-tosquiada dos narizeus, cabeleira que era
considerada sua coroa ou adorno.
O voto do
nazireado envolve a consagração especial de pessoas ou coisas a Deus (Gênesis
49:26 e Deuteronômio 33:16). Os nazireus formavam grupos piedosos[1]
do judaísmo. Os nazireus precisavam abster-se de vinho, de todas as bebidas
alcoólicas, de vinagre, até de uvas e uvas passas. Também não podiam tocar em
coisas imundas, como um cadáver, mesmo que se tratasse de um parente próximo.
Não podiam cortar[2] os
cabelos durante todo o tempo em que durasse a sua consagração. Entre os antigos
hebreus, esse voto era vitalício[3],
como no caso de Sansão.
Amós 2:12 (“Mas vós aos
nazireus destes a beber vinho e aos profetas ordenastes, dizendo: Não
profetizeis.”) sugere que os nazireus eram pessoas de
grande prestígio em Israel. Contudo, com o passar do tempo, a lei judaica
passou a permitir que tais votos fossem limitados quanto ao tempo, mas uma
coisa que nunca foi abandonada foi a severidade, ou seja, a firmeza quanto a
piedade do nazireu. Números 6: 1 a 21 traz um relato de como seria a Lei do
Nazireado.
Sansão, Samuel
e João Batista foram nazireus segundo muitos estudiosos, e foram nazireus
vitalícios, mas como foi dito anteriormente, o voto poderia ser realizado por
um limitado período de tempo, porém nunca menor a trinta dias.
A cabeleira
crescida dos nazireus simbolizava: virilidade e virtudes heróicas. As mexas de
cabelos simbolizavam uma simplicidade infantil, poder, beleza e liberdade.
Acreditava-se que a dignidade dos nazireus equivalía-se a de um sumo sacerdote.
Os nazireus tinham por objetivo uma vida de separação e um modo de viver santo
e reservado.
Os pais
poderiam dedicar sus filhos homens a esse grupo religioso e separado. Os
nazireus não viviam em comunidade separadas, e nem lhes era impedida a
associação com outras pessoas, ou de se ocuparem com atividades comuns, podendo
casarem-se caso desejassem. Viviam na comunidade de Israel como símbolos de
dedicação especial a Deus, o Senhor. Essa era a principal função dos nazireus,
e mostravam-se ativos nas práticas religiosas e em uma vida de santidade
dedicada ao Senhor.
Se os votos
do nazireado fossem violados em qualquer sentido (até mesmo por acidente, como
quando um nazireu entrava em contato com um cadáver), ele precisava renovar
todo o cunjunto de ritos purificadores, e começar de novo os seus votos.
Ao fim do tempo
marcado, um nazireu precisava oferecer vários sacrifícios, cortanto rente os
cabelos e queimando-os no altar. Em seguida, o sacerdote efetuava certos ritos
determinados, e aquele homem que havia feito o voto estava desobrigado de seus
votos com o Senhor.
[2] Não cortar os cabelos: Escritos
antigos mostravam que os cabelos de uma pessoa eram considerados a sede de sua
vida, e até mesmo a habitação de espíritos e de influências mágicas. Talvez por
essa razão é que, terminado o voto do nazireado, a pessoa precisava raspar seus
cabelos e queimá-los, como medida eficaz para anular quaisquer poderes que os
cabelos fossem tidos como possuidores
Sacerdotes
levitas
Na antiga
cultura hebreia, qualquer homem podia ser sacerdote, se mostrasse possuir a
capacidade para tanto. Mas durante o período patriarcal, o sacerdócio era
desempenhado pelo cabeça de uma família, como no caso de Abraão (ver Gênesis
8:20; 22:13; 26:25 e 33:20). Os sacerdotes, por muitas vezes, tornavam-se líderes
nacionais, conforme se vê no caso de Melquisedeque. Embora seja muito duvidoso
que ele fosse um hebreu, é certo que ele era semita[1].
E também podemos pensar no caso de Moisés, que foi líder nacional e sacerdote.
Nos tempos de
Moisés, os sacerdotes eram todos da família de Aarão. Sendo assim, é correto dizer
que todos os sacerdotes pertenciam à tribo de Levi, por meio de Aarão, mas nem
todos os descendentes de Levi eram sacerdotes, ou seja, apenas os descendentes
de Aarão eram sacerdotes. São estes os descendentes de Levi até Aarão: Levi,
Coate, Anrão, Aarão (irmão de Moisés). Aarão foi pai de Nadabe, Abiú, Eleazar e
Itamar. Coate, pai de Anrão e avô de Aarão teve 4 filhos: Anrão, Isar, Hebrom e
Uziel.
Apesar dos
sacerdotes serem prioritariamente descendentes de Aarão, houve casos onde Deus
encontrou descendentes de Levi (e também não descendentes de Levi), e a estes
lhe deu a autoridade de exercer poderes sacerdotais, como no caso de Samuel. Seus
pais foram Elcana e Ana. Elcana era levita descendente de Coate, mas não da
linhagem aarônica (1 Crônicas 6:26 a 33). Podemos também dizer que Salomão foi
rei e sacerdote, mas não pertencia à tribo de Levi, e sim à tribo de Judá. Os
profetas também desempenhavam certa função sacerdotal, não formalmente no
tabernáculo ou no templo. Em certo período da história de Israel, juízes
exerceram tanto a função de sacerdote como de juiz, como o exemplo de Gideão.
Os sacerdotes
eram ordenados a seu ofício e às suas funções mediante um elaborado ritual que
é descrito em Êxodo 29 e Levítico 8. Eles usavam vestimentas especiais, como
sinal de seu ofício, e cada peça de seu vestuário, ao que se presume, tinham
significados simbólicos específicos (Êxodo 28).
O sumo
sacerdote estava encarregado de certos deveres especiais, que só ele podia
cumprir: como oficiar no dia da expiação, entrando no Santo dos Santos com esse
propósito, e servindo de principal oráculo do sacerdócio. Também tinha o dever
de oferecer a refeição diária (Lv 6:19).
Os sacerdotes
comuns realizavam todos os sacrifícios (Lv 1 a 6), cuidavam de questões sobre
alimentos próprios e impróprios (Lv 13 a 14), e estavam encarregados de
diversos outros deveres secundários (Nm 10:10 e Lv 23:24 e 25:9). Os sacerdotes
eram sustentados mediante os dízimos, primícias dos campos, primícias dos
animais e porções de vários sacrifícios (Nm 18).
A função
original de um sacerdote era a de ser o intermediário de um oráculo, alguém que
dava instruções por inspiração divina, segundo dele se esperava. E isso
continuou a ser uma parte importante do ofício sacerdotal, principalmente no
caso do sumo sacerdote. Os sacerdotes também eram guardiães e mestres dos
documentos e das tradições sagradas. Os profetas também compartilhavam dessas
atividades, de certa forma, atuavam quase que como sacerdotes, embora sem
fazerem parte do corpo sacerdotal de maneira formal e genealógica.
Os sacerdotes
guardavam os rituais sagrados, os quais promoviam o conhecimento sobre a
santidade de Deus e a necessidade dos homens aproximarem-se Dele sem a poluição
do pecado, mediante os holocaustos apropriados e a mudança de vida.
Os sacerdotes
queimavam o incenso sobre o altar de ouro, no lugar santo, o que era mesmo um
símbolo das funções sacerdotais. Também cuidavam das lâmpadas, acendendo-as a
cada novo começo de noite e arrumavam os pães da proposição sobre a mesa a cada
sábado (Êxodo 27:21; 30:7 e 8; Levítico 24:5 a 8).
Os sacerdotes
mantinham a chama sempre acesa no altar dos holocaustos (Lv 6); limpavam as
cinzas desse altar (Lv 6); ofereciam os sacrifícios matinais e vespertinos (Ex
29); abençoavam ao povo, após os sacrifícios diários (Lv 9 e Nm 6); aspergiam o
sangue, e depositavam sobre o altar as várias porções da vitima sacrificial (do
animal sacrificado ao Senhor); sopravam as trombetas de prata e o chifre do
jubileu, por ocasião de festividades especiais; inspecionavam os imundos nos
casos de lepra e aqueles que eram curados (Nm 6, 13 e 14); administravam o
juramento que uma mulher deveria fazer quando acusada de adultério (Nm 5); eram
os mestres da Lei e agiam como juízes quanto às queixas do povo, tomando
decisões válidas quanto aos casos apresentados (Dt 17 , 19 e 21).
[1] Semita: O termo semita tem
como principal designação o conjunto linguístico composto por uma família de
vários povos, entre os quais se destacam os árabes e hebreus, que compartilham as mesmas origens
culturais. A origem da palavra semita vem de uma expressão no Gênesis e referia-se a linhagem de
descendentes de Sem, filho de Noé. Modernamente, as línguas semíticas
estão incluídas na família camito-semítica. Historicamente, esses povos tiveram
grande influência cultural, pois as três grandes religiões monoteístas do mundo
- judaísmo, cristianismo e islamismo - possuem raízes
semitas.
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